“Se lançarmos os olhos sobre os animais e sobre a terra bruta que pisam, sobre as moléculas orgânicas e sobre o fluido no qual se movem, sobre os insetos microscópicos e sobre a matéria que os produz e que os envolve, é evidente que a matéria em geral se divide entre matéria viva e matéria morta.
Mas como é que a matéria não é ou toda viva ou toda morta?
A matéria viva é sempre viva?
E a matéria morta está sempre morta?
A matéria viva não morre?
A matéria morta não começa nunca a viver?
As moléculas vivas não poderiam retomar a vida depois de a ter perdido, para a voltar a perder de novo e assim sucessivamente, até ao infinito?”
Denis Diderot
Mater, mãe, é o sítio onde a matéria se gera eternamente.
Não há lugar na terra para o eterno excepto em Mater. Aqui os mecanismos geradores da vida giram num movimento centrífugo perpétuo.
Nesta exposição, ana+betânia apresentam-nos um conjunto de esculturas que celebram a vida e a morte, interpretando mitos e rituais do imaginário judaico-cristão associados a ambas.
As suas obras desenvolvem-se em estruturas disformes, surreais, mutantes, mas frondosas e delicadas. Assistimos assim à ruptura com um longo percurso na escultura figurativa através da distorção de todas as referências do natural, cruzando elementos vegetais com animais, elementos viscerais com revestimentos cutâneos, numa luta pela sobrevivência do mais apto.
Talvez o maior produto da residência artística de quase 2 anos nas Oficinas da Cerâmica e da Terra- durante a qual dupla experimentou técnicas de conformação e cozedura praticadas ancestralmente-, seja exatamente esta aproximação a uma prática cerâmica mais crua e pristina, onde o ritual do fazer é encarado como algo místico que se sobrepõe a qualquer estética mais brilhante.